Falésia

- Obrigada - disse sem levantar o olhar. Depois de ter tudo dentro da mala olhei o rapaz que me estava a ajudar. - Pera aí, eu conheço-te! - lembrei-me das suas fotos no jornal de Rosewood, era o rapaz que tinha sido preso por ter pegado fogo à garagem enquanto a sua irmã lá estava. Afastei-me um pouco sem me aperceber.

- De nada.- encolhi ligeiramente os ombros e voltei a enfiar as minhas mãos dentro dos bolsos. Ergui o olhar para ela no preciso momento em que também o fez e engoli em seco. Pronto, afinal aqui também se afastariam de mim. Soltei um longo suspiro ao vê-la afastar-se e dei dois passos para trás para que não se assustasse comigo.- pelos vistos todos conhecem.- murmurei, mudando o peso de um pé para o outro.- eu, eu vou deixar-te sozinha.- olhei-a de relance, virando costas.

Confesso que estava assustada, queria sair dali rápido, afinal de contas estava em frente a um assassino. Tentei levantar-me mas a dor no joelho fez-me cair de novo. Tinha a meia que me tapava o joelho rasgada mostrando a minha pele em sangue. Olhei-o sem saber o que fazer.

Ela era mais um, era mais uma das pessoas que achava que eu tinha realmente cegado Jenna. Porque é que nunca acreditavam em mim?
Estava prestes a sentar-me de novo quando a ouvi queixar-se de forma algo sofrida. Virei-me de novo para ela e vi o sangue no seu joelho. Endireitei-me e fui ter com ela de forma cautelosa, o que menos queria era assustá-la.- deixa-me ajudar-te.- pedi de forma calma.- eu não te vou fazer mal, acredita em mim.- olhei-a, agachando-me.- ou pelo menos tenta.

O rapaz veio ter comigo e não consegui recusar o seu auxilio, eu mal me conseguia mexer. - Obrigada.. - foi apenas o que consegui dizer. - Toby não é? Toby Cavanaugh? - perguntei lembrando-me do seu nome em letras grandes e gordas na capa do jornal. - Eu tenho uma caixinha de primeiros socorros ali no carro..só não consigo lá chegar. - suspirei e olhei o meu carro que nem estava longe, mas eu não conseguia caminhar até lá.

Respirei fundo baixinho, agradecendo mentalmente o facto de ela ter aceite a minha ajuda, ou pelo menos era o que parecia.- não agradeças.- murmurei, começando a retirar, cuidadosamente, a meia que cobria o seu joelho. Suspirei demoradamente quando perguntou o meu nome e assenti, deixando o meu olhar fixo no seu joelho. Iria ser sempre assim, todos se iriam afastar, todos iriam chamar-me de assassino sem primeiro se darem ao trabalho de ouvir a minha versão da história, eram todos iguais.- sim, sou eu.- disse baixinho e ouvi com atenção tudo o que ela me disse, assentindo. Agarrei o seu corpo com cuidado e levantei-me com ela no meu colo, seguindo até ao seu carro que se encontrava perto. Tomei a iniciativa de pegar na sua chave que se encontrava à vista na sua mala e destranquei o carro, abrindo a porta de um dos lugares de trás. Sentei-a no banco, com as pernas para fora e olhei-a de relance.- podes dizer-me onde tens a tal caixinha?

Tomei atenção a todos os seus gestos meramente cuidadosos para não me magoar. Sem dúvida que não tinha nada perfil de assassino...mas mesmo assim, a minha mãe era advogada e mesmo não trabalhando no caso segui-o de perto. Toby tinha sido condenado e não fora por nada. - Está no porta bagagens - disse olhando para o meu joelho. Se fosse outro eu teria resmungado por ter aberto o carro sem o meu consentimento, mas o seu rosto calmo e magoado não me deixou falar.

Eu sentia-a observar-me. Provalvelmente estava a pensar em qual seria a melhor hipótese para fugir. Apenas suspirei e assenti ao que ela me disse, dirigindo-me ao seu porta bagagens para retirar de lá a tal caixinha dos primeiros socorros. Assim que a tive na mão, voltei para ao pé dela, ajoelhando-me para ficar à altura do seu joelho. Pousei a caixo no chão, ao meu lado, e abri-a retirando da mesma um pouco de algodão e algo para lhe desinfectar a ferida.- agora é capaz de te doer um pouquinho.- murmurei de olhos postos no algodão.- se precisares agarra o meu braço com força, eu não me importo.- encolhi ligeiramente os ombros e depois de ter posto betadine no algodão, mas para dizer a verdade duvidava de que ela quisesse sequer tocar-me. Aproximei o algodão da sua ferida e comecei a desinfectá-la.

Mais uma vez fixei todos os seus gestos cuidadosos e as frases de apoio que me fizeram sorrir-lhe. - Toby eu já esfolei o joelho montes de vezes, não sou nenhuma criancinha. - Ri-me. - Não te preocupes. - sorri mais uma vez mas agarrei o seu braço na mesma quando o algodão tocou no meu joelho. Fechei os olhos com o ardor que senti e apertei um pouco o seu braço forte. Toby tinha aqueles braços com que nós as raparigas gostávamos de ser abraçadas, onde nos sentia-mos protegidas.

Olhei-a quando me falou e estranhei o belo sorriso que pelo seus lábios fora desenhado. Sorri levemente e assenti, continuando em silêncio a cuidar da sua ferida. Não era profunda, mas estava esfolado o suficiente para lhe arder. Baixei ligeiramente o olhar e ri-me baixinho ao sentir a sua mão no meu braço.- está a doer muito? - coloquei-me serio e olhei-a.

- Nããão...só agarrei o braço porque prontos, para..para não cair para a frente! - inventei e mordi o lábio. Olhei a ferida com muito melhor aspecto agora e sorri-lhe. - Obrigada Toby... - agradeci e descalcei os sapatos retirando as meias dos pois pés.

Assenti à sua desculpa esfarrapada e olhei a sua mão no meu braço.
- Claro, nem eu pensei noutra coisa para dizer a verdade.- brinquei com um pequeno sorriso. Ajudei-a a descalçar-se quando vi que o ia fazer, bem como a retirar as meias das suas pernas.- de nada, não tem problema.- encolhi ligeiramente os ombros e olhei-a, já com as mãos nos bolsos.- agora sim, já te posso deixar fugires de mim.- disse sem emoção na voz.

Voltei a calçar os sapatos. Quando levantei a cabeça coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e sorri sem vontade quando Toby deu a sua deixa. - Pois.. De qualquer maneira, obrigada.. - agradeci de novo.

Pois...
Se tinha esperança de que as coisas fossem diferentes aqui, as minhas esperanças acabaram de se ruir ao ver a recção dela, provavelmente iriam ser todos assim.
- Já te disse que não quero agradecimentos.- murmurei com um encolher de ombros e fui sentar-me novamente, observando o mar.

Suspirei quando o vi afastar-se e levantei-me para me ie sentar no lugar do condutor. - Prometo wue para a próxima vou tentar sermais amável contigo..- gritei para que ele mesmo estando lá longe me conseguisse ouvir. Sem esperar pela resposta coloquei o carro a trabalhar e dirigi para o colégio.

Deixei o carro no colégio e comecei a caminhar pelas ruas de San Francisco até que fui dar a uma falésia, onde estavam alguns carros.
Acabei por me sentar numa rocha que ali estava.

Como Ren não aparecia, acabei por andar à procura dele sem o encontrar.
Quando estava prestes a desistir, passei pela falésia e desci as escadas, vendo-o; caminhei até ele e sentei-me a seu lado em silêncio.

Olhei para o lado quando senti alguém sentar-se a meu lado, Chels...
Permaneci calado e olhei novamente para a frente.

Bufei.
- Olha, merda. - resmunguei, virando a sua cara para mim e beijando-o.

Mesmo que quisesse ficar chateado era impossível...
Acabei por puxa-la para mim e retribuir o beijo.

Sorri contra os seus lábios.
- Eu amo-te. - declarei, apesar de o dizer milhares de vezes.

Sorri levemente.
- Desculpa.

Suspirei e sorri levemente.
- Desculpa não conseguir estar... toda feliz por estarmos bem. - murmurei. - Mas... eu vou ter que desistir e... - escondi a minha cara no seu pescoço.

Puxei-a para o meu colo.
- Eu posso tentar...

Mordi o lábio.
- Tentar o quê? - murmurei.