Ruas

- Will... - chamei-o baixinho. Olhei para o outro - E se nos deixasses em paz? Viemos só dar uma volta, não trazemos dinheiro. - ele virou o olhar para mim sorrindo - E vais ter de arranjar uma gaja boa que te queira.

Apertei-lhe a mão quando me chamou baixinho, mas não me virei.
-Sim, porque com esse ar de vagabundo e drogado aposto que nenhuma gaja boa te queira - fiz o mesmo sorriso divertido que ele usava.

- Meu, estás a começar a irritar-me. - deu um passou para a frente. - Dá-me o dinheiro que tens. Todo. E pode ser que vás para casa só com umas nódoas negras.

Dei-lhe um encontrão. - Meu, afasta-te. Eu não te vou dar nada que seja meu. Vai trabalhar que tens corpo para as obras - resmunguei, sentindo a navalha que trazia sempre nos bolsos, assim como a carteira, a pesar nas minhas calças.

Quando o gajo deu um soco ao Will, levei as mãos à boca para não desatar aos berros. - Eu disse-te que me estavas a irritar. - os amigos dele começaram a aproximar-se enquanto ele olhava para mim - E nós temos o que conversar. - sorriu.

Levei a mão ao queixo mexendo-o devagar e olhei para o gajo empurrando-o novamente e fechando um punho com tanta força que quando foi embater na cara do outro vi de imediato o sangue começar a escorrer do seu nariz. - E eu disse que não vais levar nada meu. - disse -lhe afastando-me de outro murro que não ia doer nada porque ele estava todo atordoado. Olhei de relance para Ash e respirei fundo, esperando que ela compreende-se que devia fugir a toda a velocidade.

Fiquei sem reação enquanto o Will batia no outro. Olhei para ele e abanei a cabeça. - Nem penses... não te vou deixar aqui sozinho com estes. Ainda acabas morto! - sentia as lágrimas a formarem-se nos meus olhos.

-Vai - disse baixinho com um suspiro e escapei por pouco de mais um murro. Continuei a empurra-lo para longe sempre que ele se aproximava de Ashley - Meu, vão-se fuder uns aos outros e deixem-nos em paz. Vão. - mandei e escapei novamente de outro que desta vez me chegou a tocar.

Não o ia deixar ali com aqueles gajos que estavam armados e que ainda o matavam. Comecei a correr para o sitio de onde tinhamos vindo e tirei o telemóvel para ligar à policia. A polícia disse que demorava uns dez minutos. Não sabia se o Will ia conseguir aguentar dez minutos com aqueles.
Quando me voltei para trás, onde tinha deixado o Will, vi um dos amigos do outro a um metro de mim. - Não te ensinaram que é feio correr das outras pessoas?

Vi Ash a correr para longe enquanto eu continuava a desgastar o gajo que nos tinha abordado. Quando vi um dos amigos dele a correr atrás dela fui para fazer o mesmo, mas por qualquer razão tropecei e só vi o pé do terceiro gajo quando já estava no chão.
-Para jogador de basquet não és demasiado desastrado? - Perguntou-me levantando-me e encostando-me uma navalha ao pescoço. Ao levantar-me ainda tive tempo de tirar a minha, abri-a e quando ele me ia agarrar nos braços fiz força e devo tê-lo cortado porque ele afastou-se. Toquei na garganta ignorando um pequeno ardor, de lado e virei-me para o gajo com a faca na mão.

Fiquei a olhar para ele, ou melhor, para trás dele onde o Will estava com um dos gajos que tinha uma faca. - Não. Na verdade disseram-me que se visse alguém como tu que devia correr. Por isso... - virei-lhe as costas e desatei a correr. Cai de cara no chão quando ele se atirou para cima de mim. Fiquei com a visão turva durante alguns segundos e totalmente em pânico quando ele me virou, ficando com as costas contra o alcatrão. - Sai! - comecei aos berros e a tentar acertar-lhe com socos.

Quando estava pronto para lhe dar um murro, o vagabundo que nos tinha abordando agarrou-me nas mãos e eu tentei soltar-me, mas ele estava a prender com cada mão sua uma minha. O terceiro tinha um corte profundo na mão e estava meio agarrado a ela, mas quando viu que estava preso e que não me conseguia soltar, sorriu aproximou-se roçando a navalha na minha cara.
-E um corte deste lado? - Perguntou-se a si próprio - seria bonito para as revistas? - Cerrei os dentes dando um safanão com o braço, mas só me fez ficar ainda mais preso. Vi o olhar dele para longe e tentei olhar para trás. - Olha ali, vê. - o primeiro virou-me e eu vi a minha sardentinha no chão.
-Larga - tentei largar-me para ir ter com ela e ajuda-la.

Ele continuava em cima de mim, a fazer peso e a mandar aquele bafo para a minha cara enquanto se ria. - És jeitosa sim senhora. - dei-lhe um murro no maxilar mas não adientou de nada. - Pois, mas já sou comprometida por isso tens de ir arranjar outra. - estiquei um dos braços para uma garrafa que estava no chão e dei-lhe com ela na cabeça.

Optei por ser gaja e mandei-lhe um coice nos filhos fazendo-o largar-me mas senti um arranham por todo o braço vendo a faca dele cheia de sangue assim como o meu braço. Guardei a minha navalha e dei um murro ao primeiro que apesar de ter força bruta estava mais grogue do que se tivesse tido uma overdose. Ao segundo olhei-o e não sei porquê, mas ele desatou a fugir deixando todos sozinhos. Olhei para Ashley e comecei a correr ao meu máximo tirando depois o homem de cima dela e mandando-lhe uns murros de punhos fechados até ele ficar irreconhecível.

Levantei-me e olhei para o Will antes de praticamente saltar para cima dele para o abraçar. - Estás bem? - perguntei super preocupada - Estás muito ferido?

Ainda lhe dei mais um pontapé antes de Ashley ter saltado para me abraçar. Beijei-lhe o pescoço deixando a minha testa cair no seu ombro. - Eu estou óptimo - disse-lhe abanando a cabeça. - Estás bem? - Perguntei tocando-lhe na face e fazendo-a olhar-me - Ele fez-te o quê? Magoou-te?

Abanei a cabeça - Só me ia matando por falta de ar. - e não tinha feito mais nada porque tinha levado com a garrafa na cabeça quando tinha começado a tentar puxar-me a t-shirt. Olhei para um corte que ele tinha no pescoço - Isso não é estar ótimo.

Levei à mão ao pescoço, para onde ela olhava e encolhi os ombros - não dói, não sinto nada - disse, por enquanto estava com tanta adrenalina a percorrer-me pelo corpo que nada me doía. Dei-lhe um beijo - Temos que sair daqui. - agarrei-lhe na mão.

- Mas temos de desinfetar isso. - disse preocupada com ele. Disse que sim com a cabeça e dei-lhe a mão. Enquanto nos afastávamos daquele local, ouviam-se as sirenes da polícia ao fundo da rua.

-Não é preciso, eu estou bem. Isto está bom - olhei para trás vendo-as ainda meio inconscientes e evitei a policia ao máximo, por causa dos jornais e revistas. Olhei para Ashley - Tens a certeza que ele não te magoou? - mordi o meu lábio - podemos ir ao médico se quiseres.

- Ele não me fez nada. Quem está mal és tu. - olhei para ele - Agora escolhe, ou vamos ou médico ou eu desinfeto-te isso no colégio. - olhei-o nos olhos - E se disseres que não precisas porque estás bem, eu juro que te dou também com uma garrafa na cabeça e arrasto-te até ao hospital.

Revirei os olhos olhando para ela e encolhi os ombros - Desinfectas tu - acabei por deixar apertando-lhe a mão e começando a andar mais rápido quando estávamos quase a chegar ao colégio.

Desta vez fomos a pé. Parecia estar uma noite agradável, mas também um pouco fresca.
- Ideias em mente? - perguntei a meio do caminho.

Olhei em volta, vendo onde estariam os restaurantes.
Fomos por uma rua que tinha alguns e vi o Restaurante Royale.
- Vamos ali?

Assenti.
- A minha namorada gosta de coisas muito à frente... - brinquei.
Entrámos no tal restaurante.