''Life Lesson'' by CP

Hoje faz um ano que ele me deixou, que ele arranjou uma desculpa esfarrapada para acabar comigo… Já o vi seguir com a sua vida, demorou uma semana a fazê-lo, ou nem isso. Ainda não percebi porque ainda não segui com a minha vida também. Eu podia ter arranjado outro namorado, já estar a fazer um, dois, três meses de namoro e ser feliz… Mas não! Estou aqui, presa nos meus próprios sentimentos por ele e sem conseguir conhecer outro alguém especial.
Se olhar pela janela do meu quarto, vou vê-lo com a outra. Parece que faz de prepósito para me ver sofrer… E eu aqui, sempre aqui, sempre a amá-lo… Qual é o verdadeiro problema do amor, afinal? Podia, simplesmente, desaparecer assim que a pessoa nos deixa. Mas não, insiste. Continua.
Anne engoliu em seco ao ler aquelas palavras. Era o que estava a sentir, apenas alguns pormenores eram diferentes. O diário que lia era de uma prima e fazia precisamente três anos que ela se tinha suicidado. Por amor. Por aquele ele que era descrito vezes e vezes sem conta no seu diário. A rapariga mudou a página. Outro dia. Outro sofrimento por parte daquela prima.
Eles estão ali mais uma vez. Vi-os quando a minha mãe me obrigou a levar o lixo e ajudá-la a trazer as compras para casa. Prendi o meu olhar no dele, vendo-o olhar-me também com um sorriso no rosto. Um sorriso! Ele estava feliz enquanto eu estava com o coração despedaçado. A minha mãe teve que me puxar pelo braço para que eu acordasse do meu transe e, assim que o fiz, levei as compras e corri logo para o quarto, voltando a trancar-me.
Isto já aconteceu à cinco horas. Ainda não comi, ainda continuo aqui a escrever no diário que deve saber mais sobre mim do que eu própria. Ainda o oiço falar… Acabo de ouvi-lo dizer que a ama mais que tudo. Porquê? Porque que isto volta a acontecer?!
A rapariga continuou a ler aquele diário com atenção. Já era a quinta vez que o lia e deparou-se novamente com a folha rasgada. A mesma folha de sempre. Ultrapassou as páginas que já sabia de cor e foi até ao último dia que a prima escrevera no diário.
27 de Agosto de 2008 – Hoje decidi datar esta página. Acho que o fiz porque foi a decisão mais importante que consegui tomar nos últimos dias. Depois de o ver sorrir, de o ouvir dizer que a ama, de o ver feliz e a gozar com a minha cara sempre que eu reunia coragem para passear o cão ou ir ao lixo… Hoje decidi que será a última vez que escreverei neste diário, que falarei dele a alguém. Porquê? Porque não aguento mais esta dor. É tão forte e parecer ser tão permanente.
Eu sempre te amarei, Louis. Sempre! E tu, quando me perderes de vez, perceberás que nunca ninguém te amará como eu.
No fim viam-se lágrimas e tinta borratada. Via-se a sua assinatura, o seu nome, corações partidos. Dois dias depois, Samantha foi encontrada morta, com uma corda envolta do pescoço. Por quem? Por ele.
Anne deitou a cabeça na almofada enquanto desenhava o contorno dos desenhos que a sua prima sempre fazia no fim das páginas. Lera tudo, desde os dias mais felizes até aos seus últimos dias.
Ouviu pedras a embater na sua janela e levantou-se, abrindo as cortinas e a janela e olhando lá para baixo. Quem lá estava era a outra de Joseph e deu por si a revirar os olhos. Quando ia a fechar a janela, a rapariga gritou:
- Não te mates por desgosto como a tua prima, querida. Ainda quero que vejas a nossa felicidade…
Anne engoliu em seco e fechou a janela com força. Não ia ser como a prima, não iria morrer de amores nem acreditar no amor eterno. Afinal de contas, nem a vida era eterna, porque haveria de ser o amor? Podia amar Joseph, muito, mas não seria burra e não acabaria com a sua vida quando ainda tanto para viver… Afinal, sempre poderia voltar a apaixonar-se. E aprender algo com a lição de vida da sua prima.

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