Gruta escondida

Fui de barco até à gruta, não sei. Apenas sei que fumei uma erva pura, deixou-me num estado lastimável. Estava doente, sentia-me mal, estava a ser perseguida pela policia e.. sei lá, tanta coisa. Só sei que fechei os olhos e deixei-me cair para a água. Quando vim ao de cima, tossi. Não esperava que fosse tão fundo. Fechei os olhos e ia tossindo, mas estava a ficar sem pé. Oh god, tinha de ser. Morrer na água. Estava cheia de frio,o corpo a tremer e a mente noutro lado qualquer. Quando me apercebi estava outro barco a chegar , mas deixei-me cair.

Passei pela rua quando vi Marie a sair a correr para um barco qualquer. Sem sequer pensar e com medo de agora ser eu a fazer a asneira, corri para outro e segui-a calmamente impedindo-a de fazer qualquer loucura. Quando lá cheguei, a loucura estava feita e vi-a a cair para a água.
-Marie! - gritei atirando-me do barco e correndo para ela. Mergulhei e nadei até ela, e quando finalmente a alcancei, quase sem ar, puxei-a com alguma dificuldade para cima e pousei-a numa rocha, fazendo pressão tal como aqueles médicos das séries tipo anatomia de grey, tentando salvá-la, ao contrário do que pude fazer com a minha irmã apesar de provavelmente ainda poder ter sido capaz de o conseguir - Marie, não morras nos meus braços por amor de deus! Já vi uma pessoa a morrer, outra não! - e quando dei por mim já via quase tudo embaciado das lágrimas que deitava.

Tossi freneticamente, sentindo o ar a voltar a circular pela minha respiração. Os meus olhos estavam embaciados de lágrimas e eu estava encharcada, mas alguém me chamava. Tentei abrir os olhos mas doía-me o corpo todo, doia-me tudo. Estava tonta, zonza e tudo o mais. Não sabia quem estava ali comigo mas mantive-me de olhos fechados, abraçando a pessoa e , efeito da ganza ainda, comecei a chorar. A outra pessoa parecia-me soluçar por isso não me importei. Quando abri os olhos e me deparei com James a agarrar-me, fiquei em choque. Ele estava encharcado e parecia..preocupado, se isso fosse possível.
- Tu? - Gaguejei, ainda com dificuldades em falar.

Suspirei de alívio quando a ouvi a falar e afastei-me, encostando-me a uma rocha. Aquela gaja, aquela gaja não batia bem de todo. Suicídio era puro egoísmo.
-Sim, eu. - respondi-lhe rudemente, irritado. talvez rude demais para uma pessoa que se tinha acabado de tentar suicidar. - Nunca te disseram que o suícidio é puro egoísmo? - acrescentei zonzo de ter passado tanto tempo ainda debaixo de água.

Levei a mão à cabeça, ainda meio tonta. Olhei para ele que estava irritado.
- Sou egoísta. - Disse, sem me preocupar. Se eu não fosse egoísta quem o era por mim? Estava sozinha nisto tudo, fazia o que achava melhor. - Não sabia que vinhas para aqui agora.
Ele estava zonzo, tentei levantar-me ainda meio debilitada e fui junto dele, tentando ver como estava.
- Acho que obrigada. Estás bem?

Abanei a cabeça, bufando.
-sim, estou bem. - resmunguei e levantei-me depressa de mais, fazendo-me sentir ainda mais zonzo, simplesmente para me afastar daquela louquinha. - E agora vou voltar para o colégio. Certifica-te que não fazes asneira - avisei comecando a afastar-me para o meu barco novamente.

Suspirei e fui para o meu barco, vendo que o telefone estava a tocar. Não liguei e vi-o a dirigir-se para o seu barco, ainda zonzo. Ainda não acreditava que ele me tinha salvo. Abanei a cabeça. O telefone não parava e vi que era da ama da minha irmã. Atendi e caiu-me tudo aos pés.
-Non credo. Oh mio dio, è impossibile. - E fiquei sem forças para remar, ficando estática a olhar para as rochas. Ele não me devia ter salvo, eu sabia que devia ter morrido. Ela estava morta.. eu não acreditava. Não podia ser ,a unica pessoa que me mantinha a fazer algo na vida. Mas como, eu . Saí novamente do barco e não consegui chorar. Fui para cima de uma rocha e liguei para toda a gente que vivia em Itália, na zona dela,.. era verdade.

Continuei no barco e comecei a ligá-lo, quando percebi que ela estava mal novamente. Amedontrado, deixei-me ficar por ali numa zona escondido apenas para me certificar que ela ficava bem. Não ia ser eu a causa de outra morte.

Passado algum tempo, decidi-me a ir ao sitio onde nunca tinha entrado. O pior era descobrir onde era. Tinha de pedir indicações a alguém que visse. Voltei para o barco e fui pelo caminho mais longínquo, quase nem vendo o caminho. Quando olhei para o lado, assustei-me ao ver James no barco. Tinha de ser ele a aparecer e a ele que tinha de perguntar. Não podia perder tempo.
Olhei-o, já completamente sem emoções.
- Onde é o cemitério?

Suspirei. Ela estava a gozar, certo?
-Para que precisas de saber? - perguntei em seguida, sentando-me num dos bancos do meu barco.

Esfreguei a palma das mãos à cara. uau, se ele sabia que eu matara alguém, que na verdade não tinha valido a pena para mantê-la viva, podia dizer isto.
Engoli em seco.
- Preciso de ir ver umas pessoas. - E pestanejei rapidamente para não verter lágrimas.

-Segue o meu barco... - acabei por dizer após uns segundos em silêncio de não saber o que lhe responder. Andei pelo barco e saí no porto, apanhando um taxi para ela. Pedi ao senhor para levar a rapariga para lá e esperei que ela entrasse para me ir embora - Não.. não faças asneira. - pedi novamente.

Já estava dentro do táxi com a porta aberta quando o ouvi. Pedi ao senhor para esperar e olhei para a cara dele, que não reconheci. Caguei para tudo e abracei-o, suspirando.
- Obrigada. - E esbocei um esgar, puxando a sua cara para um beijo leve e suave. - Sabes onde me encontrar, mister Mayer.
E entrei rapidamente no taxi, olhando pelo espelho e saíndo dali.

Não, aquela gaja não batia mesmo bem. de todo. enfim, gajas james! o que é que mais estavas à espera? Fui-me embora dali, de volta ao colégio.

-É, ninguém nos rouba - dei-lhe a mão e fiz com que ela entrasse para um barco, que estava sempre ali, primeiro verifiquei-me que aquilo não ia ao fundo. Já desde o primeiro ano que vim a Los Angeles e a San Francisco, quando tinha sete anos ou oito, tinha entrado neste barco. - É seguro.-disse-lhe sentando-me a seguir a ela e peguei nos remos.

Entrei para dentro do barco e sentei-me logo. - A sério? Não corremos o risco de isto afundar tipo Titanic mas versão anã?

Contive o riso, com o que ela disse e abanei a cabeça. - Não, ainda há pouco tempo usei este barco e estava impecável - sorri começando a remar para a gruta.

- Ainda bem. - encostei-me e pus a mão fora para tocar na água. - Está boa. - disse sorrindo. - Se o barco estivesse parado e eu não precisasse de ti para o remares, estavas agora dentro de água.

-Já me lanças para a água, deixa-me chegar ao meu destino - ri-me e entrámos na gruta. Olhei em volta e depois para ela parando quando estávamos a meio.

Assim que entrámos na gruta, pus-me a olhar em volta espantada. - Isto é tão lindo. - sorri olhando em volta encantada. - Como é que descobriste isto?

-Curiosidade de puto de oito anos - ri-me tirando as calças e a camisola e atirando-me para a água. - Vá anda lá, aqui a água ainda consegue ser melhor.

Fiz beicinho - O objetivo era eu mandar-te. Assim não tem graça. - despi a minha roupa, ficando só de lingerie e entrei dentro de água também.

-Para a próxima eu deixo-te mandares-me - aproximei-me dela rindo-me - Tem piada sim, porque te deixei amuadinha - toquei-lhe no nariz.

Deitei-lhe a lingua de fora e atirei-lhe água com as mãos. - Pois deixaste. E agora não levas beijos. A culpa é tua.