Ruas

- O que tens a ver com o que faço ou deixo de fazer? - perguntei subindo o olhar ligeiramente.

-Nada. - encolhi os ombros - E não és tu que me interessa, só a minha filha me interessa. - menti.

Assenti retomando a minha caminhada. - Vê lá se não tentas violar outra enquanto andas por ai. - murmurei.

-O quê? - perguntei sem ter a mínima noção do que ela estava a falar - Epá é como quiseres. - desisti - Apenas não mates a minha filha, percebeste? - caminhei ao lado dela pronto para me ir embora.

- Porque? - perguntei automaticamente. - Vais tentar me violar de novo, é? Vais gritar comigo? Ou vais-me bater com a porta? - perguntei descendo a manga do meu casaco para ele ver como tinha uma grande nódoa negra no braço.

Olhei o seu braço completamente confuso e foi aí que as memórias começaram a voltar a pouco e pouco - Já mostraste isso a um médico? - perguntei tentando ser o mais frio possível.

Voltei a subir a manga do casaco. - Depois de fazeres a porcaria, estás preocupado... - sorri cinicamente. Custava-me falar-lhe assim, mas não o conseguia fazer de outra maneira.

-Podes parar com isso? - cerrei os punhos com força - Ou achas que não me custa estar chateado contigo? - olhei para o chão ao aperceber-me que estava a falar um pouco alto de mais.

Olhei um bebé com os pais, engolindo em seco. - Acredita que não estás pior que eu... - murmurei. - Eu tenho de ir...

-Não queres que eu vá contigo à consulta? - não me apetecia muito confrontá-la e estar com ela mas queria saber como estava a minha filha.

- Faz o que quiseres. - murmurei encolhendo os ombros. Caminhei a seu lado calada.
*

Estava cansadissima e andar aquele caminho todo estava-me a deixar esgotada. Ia apoiada nos prédios e a minha respiração estava ofegante. Como podia estar tão cansada se mal me tinha afastado do hospital ?

Um dia tinha passado, e eu ia na minha no carro para ir ao hospital ver Lucy visto que faltava pouco tempo para poder entrar.
Quando olhei de relance pela janela do carro, deparei-me com ela agarrada a uma parede. Parei automaticamente e sai do carro correndo até ela.
- Estás-te a passar? Porque saíste do hospital? Lucy? - resmunguei num tom alto.

- Não grites - pedi, agarrada as costelas - Já estava farta de estar lá fechada, vim-me embora - recomecei a andar, mordendo o lábio para não gemer de dores.

- Eu disse para não saíres de lá! - resmunguei, pegando nela ao colo com cuidado para não a magoar e coloquei-a no meu carro.

Gemi de dores apesar dele ter todo o cuidado e fechei os olhos, encostando-me ao seu peito.
- Eu não quero ir - resmunguei quando ele me pos no carro - Leva-me para o colégio - pedi

Liguei o carro olhando para ela.
- É melhor para o hospital, Lucy.

- Eu estou bem, estou só cansada - olhei-o, suspirando - Eu estou farta de estar lá fechada - fiz uma careta.

Suspirei e nada disse, ficando por momentos calado.
- Depois não digas que a culpa foi minha. - resmunguei.
Liguei o carro e conduzi até ao colégio.

Sorri e acariciei o seu rosto.
- Tu não tiveste culpa de nada fofinho, de nada - voltei a dizer - a culpa foi toda minha

Fomos a pé pelas ruas fora.
- Então... e estás no colégio à muito tempo? - perguntei apenas para manter uma conversa agradável entre ambos.

- Sinceramente, já estou há umas semanas mas tenho estado ocupada a preencher coisas para a inscrição que não deu para conhecer ninguém . - E sorri, continuando a andar ao lado dele, sem rumo definido. - Acho que tenho sido anti-social. - E ri-me, voltando o rosto para ele. - E tu?

Olhei-a sorrindo.
- Eu era mesmo de cá, por isso já conheço isto tudo. - informei-a continuando a sorrir-lhe simpaticamente.

Olhei para ele, espantada.
- A sério? Então deves gostar mesmo disto aqui para nunca te quereres mudar. - E sorri. - Para onde estamos a ir?

Porque que todas as pessoas que olhavam de maneira estranha quando dizia que era de San Francisco? Meu que cena...
- Sim, a sério. É isto aqui é fixe. - murmurei sorrindo. - Queres ir à praia? - perguntei apontado a mesma, visto que estávamos perto dela.