Ruas

-Estou-te a fazer um convite para tal - olhei brevemente para ela - E olha que eu não trabalho naquele restaurante por acaso.

- Pronto está bem.- parei de me rir e afastei ligeiramente o nariz do casaco dele - Então despacha-te que eu tenho fome.

-Já estamos quase a chegar - passado um tempo estacionei o carro no parque de estacionamento do colégio.
Tirei o chapéu de chuva do banco de trás, saí do carro e abri-lhe a porta, abrindo também o chapéu.

Sai para a rua e ia espalhando-me ao comprido ao sair do carro, não fosse contra ele. - Ok desculpa.. - despi o casaco dele e estendi-lho - E obrigada.

-Olha lá, não caias - agarrei-a - Mantém-no vestido, tenho as mãos ocupadas - mostrei os sacos.

- Mandão. - revirei os olhos e vesti o casaco - Dá cá. - tirei um dos sacos das mãos dele e caminhei até ao colégio antes que ele reclamasse.

S.Francisco! Os meus pais mandaram-me para cá para eu cuidar do meu irmão Jev e eu aceitei com todo o prazer.
Antes de ir para o colégio, distraí-me e sentei-me numas escadas a tocar guitarra para uns sem-abrigo que ali estavam, pobres pessoas.

Saí da porcaria do hospital e meti as mãos nos bolsos, ao passar pela rua que dava para o colégio comecei a rir-me quando vi uma miúda a tocar para uns sem abrigos.
Atirei uma nota mordendo o lábio para não me rir. Fogo, ainda por cima era jeitosa.

Enquanto tocava, vi uma nota cair no chão.
Olhei para cima e vi um rapazito a olhar... ai pecado!
Ignorei a nota e continuei a cantar para os restantes.

Bah, eu devia estar mesmo horrivel, por causa daquela merda que ela mal tinha olhado. Sentei-me à frente dela e mostrei-lhe a nota.
-Não és cega pois não? - levantei uma sobrancelha.

O mesmo rapaz sentou-se à minha frente e falou.
Parei de tocar e sorri.
-Não, não sou cega, mas não preciso de dinheiro... talvez as pessoas que aqui vês à volta precisem mais dele, ou então sempre podes guardá-lo, visto que é teu - respondi e os sem-abrigo começaram a dispersar-se.
-Eu amanhã estou cá outra vez - suspirei ao vê-los ir embora.

Não aguentei mais, a forma como ela falava fazia-me rir, mas fogo ela era boa.
-Mas tipo... - controlei-me - tu é que estás a tocar, tu é que mereces o dinheiro, não são eles que não fazem nada para isso. - disse pegando na nota, que por acaso era falsa, e dando um sem abrigo que passava. - Sou tão querido - gozei com um sorriso fofo enquanto a olhava.

-Contei alguma piada? - perguntei ao estranho rapaz.
-Mas eu estou a tocar por causa deles e para eles, não toco para ganhar esmola, tenho o meu próprio dinheiro - sorri um bocado desconfortável e levantei-me.

Levantei-me quando ela o fez e continuei a olha-la.
-Vais para freira ou coisa parecida? - gozei fazendo uma careta e aproximei-me ligeiramente com os braços cruzados ao peito. - Se não vais parece. - brinquei com ela.

-Por acaso vou. Estou a estudar para tal - arrumei a minha guitarra na sua "mochila" - Mas é assim tão óbvio? - perguntei pensando em como hoje em dia as pessoas liam as outras tão bem.

Arregalei os olhos levando a mão à boca e virei-me de costas durante um bocado rindo-me.
-Eu estava a gozar, mas ya, é óbvio. - mordi o lábio para me recompor - A sério? Uma gaja tão boa como tu, para freira? És virgem?

-Bem, parece que acertaste - disse-lhe enquanto me preparava para ir embora mas ele fez uma pergunta que mais valia eu responder-lhe - Não trates as raparigas como se fossem comida e não.

Levantei uma sobrancelha com aquela resposta.
-São uma coisa parecida - disse só para a picar eu não era assim tão insensivel. - A sério? Não és virgem? - ri-me começando a andar ao lado dela - podes ser freira e não ser virgem? Ou eles vão lá a baixo ver as teias?

Ignorei o seu comentário inicial e ri-me devido aos estereótipos que davam às pessoas.
-Se me disseres o teu nome, eu explico-te e ainda te digo mais - o rapaz iria ter as respostas todas às suas perguntas. Às suas e do resto da sociedade.

Levantei uma sobrancelha e sorri abanando a cabeça.
-Assim gosto mais - sorri - O meu nome é Jesse prazer - peguei na mão dela e beijei-a.

-Gostas mais do quê? - perguntei confusa.
-Eu sou a Georgia - tirei a mão do seu alcance - e eu sou uma adolescente, ainda não sou freira. Até agora eu já tive relações sexuais, já experimentei imensos tipos de drogas, faço surf, já estive embriagada e já tive relações com pessoas do mesmo sexo...

-Oh meu Deus - disse abrindo a boca - Que ganda pecadora - arregalei os olhos fingindo-me surpreendido - Não te queres envolver com uma que é do sexo oposto? - perguntei olhando-a.

Ri-me da reacção dele, que era a reacção esperada.
-Neste momento, não - dei muita ênfase ao não - Apesar de poder, não quero cair na tentação.

Mordi a parte de dentro da bochecha para não voltar a rir, ela era mesmo totó.
-Eu sou a tentação? - perguntei sorrindo - então acho que vais cair nela, mais tarde ou mais cedo.

-Não levantes muito as tuas esperanças, porque não és - talvez só um bocadinho, vou para freira mas ainda tenho olhos na cara - Refiro-me a rapazes no geral.