Sala de estar

Passei uma mão pelos caracóis de Chris, vendo-o olhar para o pai e eu fiz o mesmo, juntando as sobrancelhas ao ver o seu estado.
- Amor, o que é que se passa? - perguntei, continuando a massajar-lhe o peito, na esperança de o acalmar.- eu não abro, tem calma.- olhei-o.- eu não...- olhei para trás quando o som do bater da porta se fez ouvir e mordi a parte de dentro da minha bochecha com força.- quem é?

Olhei para Chris e vi-o a olhar-me, não me mexi, ficando sem saber como reagir. Eu não podia fingir que não estava para sempre. Agarrei na mão de July, que me passava pelo peito e virei-me para ela, engolindo em seco. - É a minha mãe - disse levantando-me. - E eu vou manda-la embora agora.

Entrelacei os meus dedos nos seus assim que me agarrou na mão e cheguei-me mais para ele, sentindo o meu corpo gelar quando me disse quem era. 
- A tua mãe? - perguntei baixinho. E era agora que a nossa paz ia acabar. Eu sabia como é que ela era, ele já me tinha contado. Sabia o suficiente para a odiar sem sequer a conhecer.- não te passes.- pedi baixinho, levantando-me ainda a agarrar na sua mão.- eu vou contigo.

Assenti com a cabeça agarrando com força no Chris mas rapidamente parei, quando July disse que ia comigo. Virei-me na sua direcção abanando a cabeça - não vais. Fica aqui - disse olhando os seus olhos, pedindo-lhe para ficar. Eu sabia como a minha mãe sabia ser convincente. Ia para lhe passar Chris para os braços mas ele agarrou-se ao meu pescoço com força, por isso deixei-o vir comigo.

Eu não sabia se havia de chorar ou gritar, acho que era eu que estava quase a entrar em transe. Aquela mulher ali não era de todo sinónimo de boas coisas. Juntei as sobrancelhas assim que ele me disse para ficar ali e senti o meu coração apertar-se. Porque é que ele não me deixava ir com ele? Apesar de não ser isso que eu queria, limitei-me a assentir, sentando-me na pontinha da cama. Ia esticar os braços para Chris, mas ao vê-lo agarrar-se ao pai, percebi que ia mesmo ficar sozinha.

Desci as escadas indo até à entrada e fiquei a olhar para a porta, tentando preparar-me mentalmente para a enfrentar. Eu tinha que ser forte uma vez na vida. Cerrei o maxilar abrindo a porta e fiquei a olha-la.
-O que é que queres? - perguntei secamente. Ela abriu muito os olhos, fazendo depois uma expressão confusa parando o olhar no Chris.
-É o Christian? Está tão grande. - perguntou aproximando-se devagarinho e eu afastei-me.
-Nem mais um passo. - ameacei. Ela baixou o olhar e deu uns passos atrás fazendo-me levantar a sobrancelha.
-Eu estou aqui para pedir desculpas.

Porque é que ele não me tinha deixado ir com ele? Eu era baixinha, mas eu podia protegê-lo, a ele e a Chris, eu era forte o suficiente para a mandar embora e fazer-lhe frente, eu conseguia. Suspirei enquanto batia impacientemente com o pé no chão e sem aguentar mais levantei-me, encostando-me à porta na esperança de conseguir ouvir alguma coisa.

Ela percebeu que eu não a ia deixar nem aproximar-se nem entrar em casa pelo que se encostou à porta e fez-me um olhar de suplica.
-Por favor Keith, a tua irmã perdoou-me e é a tua irmã, porque é que tu não podes? - perguntou-me cada vez mais baixinho.
-Porque foste tu que me puseste mais maluco que tu - disse fechando a porta. A sorte é que Chris estava quietinho encostado ao meu peito, se não estivesse tão calmo tinha sido mais dificil.

Conseguia ouvir a voz de Keith lá em baixo, mas por outro lado, a voz da mulher nem se quer se fazia ouvir. E ainda bem, ou eu acho que me vomitava só de a ouvir. Abri um bocadinho a porta, mordendo a parte de dentro a bochecha e saí do quarto de repente assim que ouvi a porta bater. Era para descer as escadas, mas não sabia se ele queria e por isso, fiquei apenas no cimo das mesmas.
- Já foi? - perguntei de forma a que ele me ouvisse.

Levantei a cabeça quando ouvi a voz de July do cimo das escadas e olhei para a porta, vendo ainda o vulto da minha mãe, mas pela janela vi-a ir embora num táxi. Engoli em seco assentindo com e cabeça e passei as mãos pelas costas de Chris beijando-lhe a bochecha. - Podes descer - murmurei sentando-me no sofá.

Mal o ouvi dizer-me que podia descer, fi-lo o mais rápido que consegui, agradecendo mentalmente por não ter tropeçado em nenhum degrau. Passei uma mão pelo cabelo, vendo-o sentado no sofá e fui ter com eles, sentando-me ao seu lado.
- O que é que ela queria? - perguntei baixinho, passando as pontinhas dos dedos pelo seu braço.

Chris já dormia, podia sentir pela sua respiração a embater no meu pescoço. Fechei os olhos ficando a dar-lhe festinhas e só parei qundo ela veio ter comigo. Abanei a cabeça sem saber o que dizer, nem eu sabia o que ela queria realmente.
-Pedir desculpas.

Levantei uma sobrancelha com o que Keith disse e olhei durante uns segundos para Chris adormecido. Ele merecia uma avó melhor. Suspirei, abanando a cabeça e aproximei-me mais de Keith, esticando-me para roçar os meus lábios na sua bochecha.
- Já passou.- murmurei, apesar de saber que não tinha passado.- mandaste-a embora, mostraste-lhe que és mais forte do que ela.- beijei-lhe a mesma.- já passou.- repeti, abraçando-o com cuidado por causa de Chris.

Abanei a cabeça quando ela disse aquilo que eu sabia que ela ia dizer - eu não sou mais forte que ela - disse abanando a cabeça - eu perdi a cabeça por causa dela. Eu sou como ela, só não sou mau - murmurei com as lágrimas a quererem saltar-me dos olhos, mas engoli em seco e respirei fundo encostando apenas a cabeça ao seu ombro.

Fui juntando as sobrancelhas à medida que ele falava e assim que terminou, eu abanei a cabeça, apertando o seu corpo contra o meu, mas sempre com cuidado por causa do bebé.
- Tu não és como ela Keith.- murmurei.- tu não tens culpa do que ela te fez, qualquer pessoa na mesma situação reagia como tu.- suspirei.- tu não és como ela, és melhor do que ela.

Cerrei o maxilar abanando a cabeça e senti Chris agarrar-me com força pelo pescoço. - Não - disse meio irritado - não, deixem-me - tentei com que Chris me afastasse e coloquei-o no colo de July - todos - disse indo na direcção do jardim. Tinha acontecido tanta coisa nestes ultimos meses que eu não estava a conseguir incorporar tudo e parecia uma bomba prestes a rebentar.

Levantei o olhar para Keith assim que senti os seus músculos contraírem-se e já só tive tempo de agarrar em Chris, quando ele mo passou para os braços de repente.
- O que é que se passa?- murmurei, juntando as sobrancelhas enquanto o passava. Ele estava tão...fora de si. Baixei o olhar para Chris, que estava com um beicinho, já com os olhos cheios de lágrimas e abanei a cabeça, beijando-lhe a testa.- está tudo bem bebé, não chores.- murmurei baixinho, embalando-o nos meus braços. Voltei a levantar o olhar, olhando para Keith no jardim e suspirei, levantando-me. A visita da mãe dele só tinha piorado tudo. Levantei-me, aconchegando Chris no meu colo e beijei-lhe a cabeça, ouvindo-o choramingar baixinho.- shh.- murmurei embalando-o. Fui até ao jardim, com cuidado e parei um pouco atrás dele.- amor..- eu sei que ele tinha pedido para o deixarmos, mas era mais forte do que eu.

Peguei em Chris, tirando-o da sua cadeirinha depois de ter comido a papa toda, e aconcheguei-o no meu colo, sentindo-o deitar a cabeça no meu ombro.
- Pára de estar triste, o papá vai ficar bem.- beijei-lhe a testa enquanto andava até à sala. Já tinha passado duas horas desde que Keith tinha ido para o jardim, e ainda não tinha saído de lá. Sentei-me no sofá, sentando Chris no meu colo e deixei-o esconder a cara nas minhas mamas.- muito espertinho.- dei uma leve gargalhada. Eu estava preocupada, como era óbvio, mas tinha de estar bem ao pé de Chris. Estiquei-me para o comando ligando a televisão e pus no canal dos desenhos animados, fazendo cavalinho com as minhas pernas.- olha Chris, está a dar o pateta.- toquei-lhe no cabelo para tentar despertar a sua atenção, vendo-o levantar a cabeça para olhar o boneco, mas sem deixar de estar encostado a mim. Desviei o olhar da televisão quando ouvi a porta abrir-se e vi Keith entrar. Mordi a parte de dentro da minha bochecha com força olhando-o, mas não disse nada.
- Papá.- Chris pareceu reparar em Keith também, porque deixou de tomar atenção à televisão e começou a esticar-se todo para Keith.

Olhei-os a verem televisão, ou pelo menos ela estava ligada. Fui na direcção de July e Chris o ouvi chamar por mim e agarrei-o ao colo abraçando-o. Passei a mão pelas suas costas e fui para o lado de July encostando a cabeça e olhando para a televisão. - Não queres ver televisão? - perguntei baixinho a Chris, mas ele já dormia. Sorri levemente passando uma mão pela sua bochecha e ajeitei-o ao meu colo para não ficar todo torto.

Assim que Keith se aproximou, eu deixei que tirasse Chris do meu colo, visto que ele quase caía só para chegar ao pai. Peguei numa almofada, para me agarrar a ela e cheguei-me mais para Keith, quando senti a sua cabeça encostar no meu ombro. 
- Ele estava preocupado contigo.- foi a única coisa que me lembrei de dizer, para não estar sempre a perguntar como é que ele estava e estiquei-me para o comando, colocando mais baixo para não acordar Chris.

Toquei-lhe no cabelo, dando festinhas na sua nuca e suspirei baixinho assentindo com a sua cabeça ao que July disse - desculpa - murmurei - não gosto de me sentir assim e passo-me - levantei a cabeça para a olhar mas acabei por encostar de novo a cabeça beijando-lhe o ombro com um suspiro.

Virei a cara para o lado mal o ouvi pedir-me desculpa e senti o meu coração ficar apertadinho.
- Não peças, eu sei que não é fácil.- murmurei baixinho e encostei a minha cabeça à sua, ficando a passar as pontinhas dos dedos pelas veias salientes do seu braço.- estás melhor? - perguntei dando-lhe um beijinho na testa.

Encolhi os ombros para responder à sua pergunta e fechei os olhos mal senti o seu beijo na minha testa, não lhe ia responder, ela sabia que não. Estava ali porque tinha que estar, porque sinceramente só queria estar sozinho. Nem comigo próprio queria. Comigo é que não. Por isso, talvez ela fosse a melhor distração. Quando estava com ela não me lembrava de mim próprio. -vamos fechar-nos cá dentro.

Fiquei a fazer-lhe festinhas no braço, deixando-me estar encostadinha a ele e suspirei baixinho com o seu estado, odiava vê-lo assim. Desviei o olhar para Chris, que dormia descansado nos braços do pai e passei as pontinhas dos dedos pela sua bochecha rosada. Voltei a concentrar-me em Keith, ouvindo o que ele disse e sorri sem vontade.
- Se isso fosse possível.- mordisquei o meu lábio.- era tudo muito mais fácil.

Sorri levemente apesar de sem vontade e encolhi os ombros - não é impossível, mas também não é muito saudavel - disse-lhe olhando de novo para a televisão. Chris resmungou no meu colo remexendo-se, o que me fez tapa-lo com uma manta que estava por ali beijando-lhe a testa.
-Ele nunca vai ser feliz com ela a perseguir-me.