Quarto da Marie

Continuei de joelhos à sua frente e quando me puxou, eu apertei o seu corpo contra o meu. Eu tinha que tentar que ele percebesse que eu estava ali. O meu coração apertou-se quando ouvi os seus soluços e já só senti a suas lágrimas molharem-me o ombro.
- Shh.- afaguei-lhe as costas, abraçando-o muito.- está tudo bem Keith, elas não te vão fazer mal, eu não deixo.- fui murmurando, tentando que se acalmasse.

-Tira-me daqui - disse todo choroso e apesar de lhe pedir isto o meu corpo parecia um autêntico formigueiro e eu não me conseguia mexer, ficando apenas de joelhos e a apertar-lhe a camisola com a cabeça encostada ao seu ombro.

Respirei fundo várias vezes e tentei concentrei-me, tentando pensar no que fazer para ajudar. Ele parecia tão desesperado, eu estava a morrer só de o ver assim. Afastei-me ligeiramente e agarrei na sua face, limpando as suas lágrimas com os meus polegares.
- Vais tentar levantar-te para sairmos daqui, está bem? - olhei os seus olhos, e beijei-lhe a testa.- vá, vamos, vamos sair daqui.- levantei-me devagarinho, tentando não me afastar muito e agarrei-lhe no braço.

Assenti ao que consegui perceber e agarrei no seu braço conseguindo andar um pouco aos cambaleões. Sentia-me a ferver, era uma sensação horrivel em pleno janeiro. Respirei fundo, ou tentei porque fiz mais barulho que outra coisa. Quando cheguei ao quarto da irmã de Will caí/sentei-me à porta e rasguei a minha camisola para respirar.

Agarrei-o e para que não caísse e subi com cuidado até ao quarto de Marie. Abri a porta e assim que entrámos ele encostou-se à porta, rasgando a camisola. Engoli em seco e fui até à casa de banho, encharcando a toalha com água fria. Voltei para o quarto e ajoelhei-me de novo junto dele, passando-lhe a toalha pela cara e pelo peito.
- Tem calma Keith.- pedi baixinho, aproveitando para lhe massajar o peito também.

Gemi com a diferença de temperaturas e fechei os olhos arrepiando-me apesar do calor que sentia.
-Isso sabe bem - disse deixando-me estar de olhos fechados. Pelo menos não as via, apesar de conseguir imagina-las e de o fazer demasiadas vezes sem querer.

Esperei que se habituasse ao frio da toalha e depois continuei a molhar-lhe o peito, passando-lhe por vezes pela cara. Suspirei quando falou e mordi o lábio, sentindo, pela primeira vez, que estava a fazer alguma coisa bem.
- Shh, aproveita.- sussurrei, dando-lhe um beijo na testa.

Sentei-me melhor, até ficar confortável e fazer o que ela pediu.
Aos poucos, comecei a sentir a minha respiração voltar ao normal e o nó que sentia no estômago que se alastrava para o peito a começar a acalmar-se, mas continuei na mesma posição até ficar meio atordoado.

Molhei-o várias vezes e continuei a massajá-lo até senti-lo acalmar-se. Mordi o lábio e passei-lhe a toalha pelos braços, olhando-o.
- Sentes-te melhor? - perguntei baixinho, para que continuasse calmo.

-Estou com febre - disse baixinho com a voz rouca, era sempre a mesma porcaria todos os ataques, nem precisava de pensar muito para saber que estava com febre. Abri os olhos vendo July e coloquei a minha mão em cima da sua tirando-lhe o pano e encostando-me a ela. - deixa-me dormir. - disse já de olhos fechados.

Estremeci com a sua voz rouca e suspirei quando me disse que tinha febre. Pousei os lábios sobre a sua testa e realmente, ele estava mesmo quente. Ia levantar-me, mas ele encostou-se a mim e pediu-me que o deixasse dormir.
- Eu deixo, mas anda para a cama..ficas mais confortável.- levantei-me e puxei-o até à cama, aconchegando-o em mim de novo.- dorme bem.- sussurrei.

Ela arrastou-me até à cama e eu agarrei-me a ela apesar do calor, porque me sentia mais seguro, visto que ainda me sentia em pânico. Sentia-me esgotado por isso quando fechei os olhos sabendo que já podia dormir confortável adormeci.

Deixei que se agarrasse a mim e só não o cobri para ver se a febre baixava. Puxei-o ligeiramente para mim e beijei-lhe a testa, fazendo-lhe festinhas no cabelo, até sentir a sua respiração acalmar e ele adormecer. Só esperava que quando acordasse todo este pânico já tivesse passado, odiava vê-lo assim. Suspirei ao olhá-lo e fiquei a fazer-lhe festinhas, com o cuidado de não o acordar.

Abri os olhos de repente com o coração a mil à hora e engoli em seco sentando-me na cama. Encostei a cabeça à parede e olhei para o tecto por momentos não olhando para elas. Eu devia ser internado, eu devia mesmo.

Aproveitei que ele dormia para fechar os olhos, e descansar um bocadinho também, mas não durou muito porque os meus olhos abriram-se de repente quando senti movimento na cama. Olhei-o e vi-o sentar-se num impulso, com a respiração acelerada.
- Keith.- chamei e toquei-lhe na face, fazendo-o olhar-me.- tem calma, está tudo bem.

Engoli em seco quando vi e ouvi July.
Assenti com a cabeça e voltei a deitar-me.
-Sim, eu sei que está - disse virando a cara para a janela.

Não, ele não sabia. Ele queria era fazer parecer que sabia. Mordi o lábio e suspirei, esticando-me para lhe conseguir tocar na testa.
- Sentes-te melhor?

Assenti com a cabeça e olhei para as mantas puxando-as para cima do meu corpo.
-Estou - disse brincando com o cobertor quentinho que havia. Passei as mãos pelos olhos com um suspiro e olhei para ela - obrigado.

Verifiquei que, realmente, já não estava tão quente e respirei fundo, aliviada. Olhei-o quando me olhou e encolhi os ombros, baixando-me para lhe beijar a bochecha.
- Não tens de agradecer miau, eu só te quero bem.- sussurrei e ajeitei-lhe as mantas.- queres que fique aqui, ou preferes ficar sozinho? - engoli em seco. Por favor, a primeira opção.

Encolhi os ombros e fiquei a olhar para ela de lado. Coitada, ela fazia de tudo para me animar, e apesar de não conseguir ela não merecia que eu tratasse tão mal como ultimamente tinha tratado.
-Podes ficar.

Foo como se voltasse a respirar assim que ouvi a sua resposta. Assenti, com um pequeno sorriso e deitei-me a seu lado, tapando-me também.
- Sentes-te mais calmo? - perguntei muito baixinho.

Assenti com a cabeça à sua pergunta.
-Sim - disse olhando para o tecto mas não aguentei muito mais e sentei-me esticando-me até ao bloco de desenhos continuando a desenhar o que faltava.

Assenti à sua resposta e fiquei em silêncio até ouvir o chiar que a cama fazia sempre que alguém se levantava, não era ruidoso, mas suficientemente característico para que já o conseguisse reconhecer. Olhei-o já com o bloco de desenhos na mão e sentei-me com as costas encostadas à cama, espreitando ligeiramente. Não Jullie. Mordi o lábio e afastei-me, ficando em silêncio.

Mudei a folha olhando para ela, depois terminava o outro desenho.
-Queres um retrato? - perguntei-me ajeitando-me na cama e encostando as minhas costas e cabeça à almofada.

Olhei-o quando também me olhou e já só arregalei os olhos, abrindo a boca com a sua pergunta.
- Um retrato? Meu? - oh estúpida, é um retrato, querias que fosse de quem? Abanei a cabeça e mordi o lábio.- se quiseres fazer.