Quarto da Marie

-Se quiseres faço do Will, aposto que ele ia gostar - revirei os olhos para ela e agarrei no lápis e no carvão começando a desenha-la apesar de ela nem ter dito nem que sim nem que não.

Mordi o lábio, soltando uma gargalhada e passei as mãos pelo cabelo, tentando dar-lhe um jeito quando o olhei pelo canto do olho e o vi já a desenhar.
- É suposto ficar quietinha não é? - hoje era o dia das perguntas estúpidas, é que só podia.

Neguei com a cabeça enquanto a desenhava.
-Não, eu já decorei os teus traços todos - disse baixinho porque ultimamente eu só gostava de silêncio. Desenhei por mais de meia hora e quando acabei o esboço virei para ela.[b]

-Não, eu já decorei os teus traços todos.
Oh meu deus! O que é que ele queria dizer com aquilo? Era bom ao menos? Abanei a cabeça enquanto me debatia mentalmente e apesar de ele ter dito que não era preciso, mantive-me quieta durante a meia hora seguinte. Olhei-o e o meu olhar desceu até ao seu bloco, vendo-me...era eu! Estava tão igual. Arregalei os olhos e tapei a boca com as mãos.
- Que lindo.- murmurei, tocando com um dedo no meu nariz desenhado.- tens mesmo muito jeito.- olhei-o depois.

Fiz uma careta e abanei a cabeça.
-É um esboço - disse voltando a virar-me para o bloco mas não consegui retocar mais nada, porque não consegui ver mais nada de jeito a não ser um nervoeiro subito e o meu queixo a tremer. agarrei-me aos joelhos escondendo a minha cara e deixei o bloco cair para a cama.

- Se o esboço é assim, fará o desenho final.- abri muito os olhos e quando voltei a olhar para ele já ele estava agarrado aos joelhos e com a cara escondida nos mesmos.- oh Keith.- soltei um pequeno suspiro e aproximei-me dele, abraçando o seu corpo com força.

Eu queria esquecer tudo, queria mesmo. Solucei encostando a cabeça ao seu ombro quando me abraçou e deixei que o fizesse abraçando-a também sem conseguir dizer nada, mas também não havia muito para dizer.

Afaguei-lhe as costas e puxei-o para mim, embalando o seu corpo ligeiramente como se ele fosse muito pequenino.
- Isto vai passar um dia.- beijei-lhe a cabeça com um suspiro.- eu sei que vai.- falei baixinho, deixando-me depois ficar apenas abraçada a ele.

Apenas comecei a passar com a cabeça negando o que estava a dizer.
-Eu matei-as, e vou fazer o mesmo ao Chris - disse baixinho tentando não soluçar, apertando-lhe a camisola que tinha vestida.

O meu coração estava tão mas tão apertadinho que já nem tinha bem a certeza de que ainda o tinha realmente. Continuei a abraçá-lo e a apertá-lo contra mim, tentando fazer com que se sentisse mais seguro.
- Não.- abanei a cabeça.- tu não vais matar o Chris, não digas disparates.- encostei o meu nariz à sua cabeça, fechando os olhos.- tu adoras o Chris, não lhe vais fazer mal.

-Eu amava a Lucy e matei-a - lembrei-a enfiando a cabeça no seu pescoço e ficando agarrado a ela até me sentir acalmar de novo, pelo menos, até não ter soluços e conseguir respirar convinientemente.

Engoli em seco com a sua resposta e passei a língua pelos lábios, enquanto pensava no que lhe responder.
- Tu não o vais fazer.- passei as mãos pelo seu cabelo.- tu estás a sofrer, estás a aprender com os teus erros, não os vais voltar a repetir.- apertei-o contra mim.- eu confio em ti.

-Não posso impedir de ter alucinações com aquela cabra - disse sentindo-me mais calmo para conseguir falar. Neguei com a cabeça quando ela disse que confiava em mim - Não confies.

- Pois não.- abanei a cabeça.- não podes, mas elas hão-de acabar por desaparecer, ela vai deixar-te em paz.- passei as mãos pelo seu cabelo de novo, beijando-lhe a testa.- mas eu confio, confio e acredito.- sussurrei, apertando-o contra mim.

Assenti com a cabeça com esperanças que o que ela dissesse acontecesse muito, apesar de as minhas serem poucas.
-Eu não sei se consigo aguentar mais - disse depois de algum tempo calado.

Fiquei em silêncio durante o mesmo tempo que ele. Acariciei as suas costas, passando as mãos pelos seus braços e depois subi para o seu cabelo, fazendo-lhe festinhas. Olhei para baixo quando falou e mordi o lábio.
- Tu vais aguentar.- sussurrei, apertando-o.- tu és forte, e eu estou aqui, está bem? Eu vou ajudar-te.- suspirei e beijei-lhe a cabeça.- tu vais consegui Keith.

Limpei parte da cara ainda encostado a ela e quando fiz também do outro lado deixei-me estar quieto com a cabeça enfiada no seu pescoço ouvindo o que ela me dizia.
-Porque é que elas não desaparecem? - perguntei baixinho.

Continuei a fazer-lhe festinhas, deixando-o encostadinho a mim. Esperava que lhe estivesse a saber tão bem a ele como estava a saber a mim.
- Porque tu ainda não aprendeste a esquecê-las, tens de as saber ignorar.- sussurrei.- elas hão-de desaparecer.

-Eu tento - disse depois de a ouvir. Fechei os olhos contra o seu pescoço e abracei o seu tronco. - a sério - acrescentei baixinho fungando. Com a cabeça e latejar engoli em seco e deixei-me ficar quietinho até adormecer.

- Eu sei.- suspirei e encostei-o muito a mim.- tu vais conseguir, eu prometo.- continuei a falar baixinho e quando a sua respiração acalmou, percebi que tinha adormecido. Puxei as mantas para cima, de modo a mantê-lo quentinho e fiquei ali, com ele.

Abracei-me mais à almofada quentinha e só depois percebi que a almofada quentinha era July. Deixei-me estar na mesma agarrado a ela enquanto acordava e abria os olhos.
-Tenho fome - disse baixinho.

Olhei para baixo quando o senti mexer-se e sorri ao vê-lo acordar e agarrar-se a mim. Dei-lhe um beijinho demorado na testa e puxei as mantas para cima.
- Queres que eu vá buscar ou preferes ir comer lá em baixo? - perguntei no mesmo tom que ele.

-Vamos comer lá em baixo, a Lea faz o pequeno almoço. - saí devagar de cima dela e sentei-me passando as mãos pela cara. Olhei para a rua vendo que estava bom tempo e tirei as mantas de cima levantando-me e indo abrir a janela.

Assenti e esperei que saísse de cima de mim para me levantar. Passei as mãos pela roupa, tentando dar-lhe um jeito. Olhei-o a abrir a janela e mordi o lábio, vendo os seus músculos das costas contraírem-se. Oh meu deus. Obriguei os meus olhos a focarem-se na porta e quando veio ter comigo, desci com ele até à cozinha.

Fiquei a olhar por momentos para a praia que estava vazia apesar do bom tempo e depois virei costas olhando-a e vendo-a a olhar-me. Fui ter com ela em silêncio descendo depois para a cozinha. Fui até ao frigorifico e tirei apenas um iogurte sentando-me na mesa.