Quarto da Grace Wood

À saída do aeroporto apanhei um táxi. Chorei o caminho todo até ao colégio. Quando lá cheguei fui para o meu quarto. Deixei a mala à porta e deitei-me em cima da cama a chorar, abraçando uma almofada. Acabei por chorar até adormecer.

No dia seguinte acordei com dores por todo o corpo e mal disposta. A primeira coisa que fiz assim que me levantei foi correr para a casa de banho. Vomitei a pouca comida que tinha no estômago e deixei-me estar sentada ao lado da sanita, com a cabeça encostada à banheira uma vez que não tinha forças para me levantar. Quando finalmente me consegui levantar fui até ao armário e tomei dois comprimidos. Deitei-me de novo em cima da cama.

Quando acordei de novo já eram horas de almoço, mas como não tinha fome e nada para fazer peguei nas minhas coisas da escola e pus-me a estudar. No dia seguinte as aulas iam começar e eu tinha que dar o meu máximo se queria entrar para medicina.

Quando cheguei ao meu quarto sentei-me na cama, suspirando. Não sabia o que fazer. Peguei no telemóvel e liguei à minha irmã. Falei com ela cerca de meia hora e depois de desligar, deitei-me na cama a olhar para o teto e com os fones nos ouvidos.

Tinham-se passado dois meses e mais nada tinha acontecido. Via Edson na escola de vez em quando mas ele ignorava-me e eu, com medo do que ele poderia dizer se eu fosse falar com ele, também o ignorava. Mas tinha saudades dele. E não conseguia aguentar mais sem o ver e sem o ter perto de mim. Nesse dia cheguei ao meu quarto, vinda das aulas, decidida a acabar com aquela distância. Peguei no telemóvel e mandei-lhe uma mensagem.

-Da próxima vez venho mesmo nua. - a roupa molhada no corpo estava a incomodar-me mas felizmente já estávamos à porta da zona das raparigas - Encontramo-nos depois do banho?

- Vai ter às 10 para as nove ao meu quarto. - O stôr não se atrasa nunca, por isso não te atrases. - dei-lhe um beijo na bochecha e fui para o meu quarto.

-Eu não sou pessoa de atrasos. - beijei-o também na bochecha e entrei para o meu quarto. Tomei um banho, arrumei as minhas coisas da escola e fui ter com ele.

Entrei no meu quarto e fechei a porta atrás de mim. Estava um calor horrível, o que não era normal para Março. Abri as janelas depois de pousar o meu peluche no chão. Despi-me toda, ficando apenas com um top de alças e as cuecas e deitei-me na cama à espera de adormecer.

Bati à porta e entrei. - Estás cheia de calor - ri-me ao vê-la toda fresca e com  as janelas abertas.

Abri os olhos quando ouvi a voz de Edson. Estava mesmo quase a adormecer. Sentei-me na cama e esfreguei os olhos - Está calor. - respondi com voz de sono.

- Londrina - sorri e sentei-me ao seu lado, encostando-a para mim. - Acho que está normal. 

-Tu também és londrino. - recostei-me na cama, olhando-o de relance - Isso é porque deves ter estado parado. Eu não.

- Que foi meu? - disse num tom resmungão - Estava a ter aula, o cérebro produziu calor por mim - revirei os olhos.

-Não foi nada. - desde a tarde que tinha pressentido que alguma coisa se passava com ele. Era estranho que de um momento para o outro estivesse tudo bem.

Revirei os olhos - Então porque é que desencostaste? 

-Não me desencostei Edson. - cheguei-me mais para ele na cama, até os nossos braços estarem encostados - O que é que se passava contigo esta tarde?

- Comigo? Esta tarde? Nada o.O Tu é que bazaste a toa. - arqueei uma sobrancelha,

-Edson, eu sou tudo menos burra. Se me foi embora é porque percebi que não me querias lá. - levantei-me e fechei a janela, voltando para a cama.

- Porque não haveria de querer-te lá, hun? - olhei-a.

-Não sei. Isso pergunto-te eu a ti. - olhei-o também.

- Não tens resposta porque não sei onde foste buscar isso. - olhei-a nos olhos. - E não fui ter com eles. Fui foder, mas nunca disse que não te queria lá. Se calhar até era bom se estivesses - resmunguei.

-Para quê? Para assistir enquanto tu fazias sexo com outra pessoa? - senti os meus olhos inundarem-se de lágrimas, mas não ia chorar por nada deste mundo - Não obrigada. - deitei-me na cama.

- Não, para foderes connosco. Qual é o problema? Nós não somos nada, não temos nada, e eu não estou a pensar em ter nada com alguém, gosto de ser livre. - suspirei.